Nossa História

Barraca da vinícola na Festa do Vinho

Tudo começou com Achiles Augusto de Moraes, pai do nosso fundador, que nasceu no século passado, em 1887, em pleno período colonial, antes da Abolição da Escravatura no Brasil e já era um pré-adolescente quando o Marechal Deodoro da Fonseca, em 1898, protagonizou a Proclamação da República. Achiles Augusto de Moraes nasceu em São Roque, ainda uma acanhada cidade, cuja população mal alcançava a casa dos 6 mil habitantes e toda a força da economia estava voltada para a zona rural. Nasceu no bairro Sorocamirim, onde, ao lado dos pais, fincou as raízes de uma família de agricultores que, a par das culturas do feijão, da batata, milho e outras enveredou para a criação de gado. 

A família Moraes, na verdade, praticava a chamada agricultura de subsistência: culturas básicas para alimentação e troca dos excedentes por outros gêneros complementares. No inicio dos anos 20, homem feito, já casado com a senhora Aurora Augusto de Moraes, a ascendência portuguesa de Achiles inspirou o caminho que abrira novas e promissoras perspectivas, um verdadeiro divisor de águas na saga da família. Iniciou a plantação de uvas, preferencialmente as variedades Seibel, Isabel e Niagara. Achiles foi, então, um dos pioneiros de nossa vitivinicultura. De forma artesanal, iniciou a elaboração de vinhos Tinto Seco, Branco Seco, Suave, Licoroso. Outros produtores foram surgindo na região e Achiles, além do fabrico de vinhos, tinha parreiras suficientes para fornecer uvas a imigrantes e descendentes que buscavam êxito na vitivinicultura. 

A família Moraes principiou a elaboração de vinhos com os procedimentos mais artesanais de que se tem noticia dentro de toda a historia de vitivinicultores são-roquenses. Ao lado dos pais e outros familiares, Achiles Augusto de Moraes pisou uvas em tinas, seguindo técnicas e mesmo rituais que remontam a tradição dos mais antigos povos europeus. No início da década de 20, quando iniciaram o plantio da uva e ainda mantinham o cultivo de culturas básicas de subsistência, os Moraes faziam uso do arado, da tração animal para semear as terras do Sorocamirim e cuidar dos parreirais. Assim, mantinham um pequeno rebanho de eqüinos e bovinos para dar conta das tarefas do campo. Ao mesmo tempo, em carros de boi, transportava as colheitas para cidade ou, então, até a Estação de Gabriel Piza, onde o transporte ferroviário se encarregava de destinar os produtos ao mercado da Capital. 

Com o correr dos anos, São Roque conheceu um grande impulso na produção do vinho com técnicas mais avançadas, o princípio da industrialização. Em meados da década de 30 quando esse processo se consolidava, Achiles Augusto de Moraes fundou os Vinhos Guarani. Para tanto, construiu uma adega, substituindo os rudimentares procedimentos com as tinas pela construção de tanques de concreto para a fermentação e armazenagem dos vinhos. Sua primeira safra oficial foi de 11 mil litros da bebida.

A exemplo de outros produtores, ainda utilizava a quartola, de 250 litros, e o barril, de 100 litros, para a distribuição dos Vinhos Guarani que alcançava São Paulo e diversas cidades da região. 

Achiles Augusto de Moraes participou de todas as Festas da Uva e do Vinho realizadas em São Roque, com suas uvas ou vinhos, construindo uma tradição que manteve até o fim de sua vida.  

A perseverança, a fé e o amor à terra, o grande legado moral e exemplo de vida e trabalho transmitidos por seus pais, forjaram o caráter determinado de Achiles Augusto de Moraes. Foi com esse espirito empreendedor que ao longo da vida, construiu um patrimônio de 100 alqueires de terras férteis no Sorocamirim. Neste fez brotar e vicejar mais de 50 mil pés de uvas, entre as variedades destinadas para mesa e as para vinificação. Assim, os vinhos Guarani, de Achiles Augusto de Moraes, alcançaram safras superiores a 100mil litros/ano.

Na sua trajetória de 98 anos bem vividos, esse pioneiro da vitivinicultura viveu intensamente o que poderíamos denominar o período áureo do vinho, compreendido entre as décadas de 50, 60 e 70.

Entretanto, mesmo nesse período favorável, que atraiu dezenas de vinhateiros e chegou-se a mais de duas centenas de marcas, Achiles foi um vitivinicultor bem sucedido pois, décadas antes, já montara uma estrutura, uma base sólida. Tampouco deixou-se levar pela euforia febril. Fiel à sua terra, aos seus vinhedos, manteve um padrão de qualidade e média de produção. Seu crescimento e prosperidade aconteceram como resultado, conseqüências natural de toda uma vida dedicada ao desenvolvimento de um produto típico, que sempre levou a assinatura do trabalho e da maturidade.

Do casamento de Achiles com a senhora Aurora Augusto de Moraes foram gerados dez filhos: Gentil, Brasilio, Achiles (Nino) e Guaraci, bem como Nilce, Deolinda, Benedita (A Dona Iaiá), Ondina e Laura. Duas vinícolas foram forjadas dentro da família Moraes : XV de Novembro e Vinhos Sorocamirim, de Brasílio e Gentil de Moraes, respectivamente.